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                   Foto:  Consolide   
                    
                  PORTO  ALEGRE E SÃO LEOPOLDO NO RIO GRANDE DO SUL  
                    28/07/2004 
   
                    As ruas centrais de Porto Alegre — a Andradas, a Doutor Flores, a Voluntários  da Pátria — fervilham como um formigueiro humano. Uma verdadeira multidão em  todas as direções, congestionamento próprio de uma grande cidade.  
                     
                    As ruas de pedestres lotadas, agitadas. As pessoas esquivando-se para não se  chocarem nem tropeçarem nos produtos dos vendedores ambulantes expostos pelo  chão. Um espetáculo malthusiano sintomático de nosso crescimento demográfico  crescente e da urbanização acelerada de nosso país. Para quem vem do vazio de  Brasília, com nós [Nildo e eu], é impressionante e incômodo mas,  paradoxalmente, também passa a sensação de vitalidade, de calor humano, de  animação. Contagiante.  
                    
                  O trem urbano de Porto  Alegre agora vai até São Leopoldo, o berço da colonização alemã. Decidimos [Nildo  e eu] fazer o passeio mas, antes, fomos à exposição de Joan Miró no Espaço  Cultural Santander. É sempre um prazer para os olhos e um alimento para o  espírito as imagens do genial artista espanhol. A mostra concentrou-se em  gravuras, desenhos e cartazes. Havia também um filme com o criador em seu  estúdio trabalhando. 
                   
A curadoria excelente, com textos de João Cabral de Melo Neto e de Mario  Pedrosa pelas paredes, além das decorações do próprio Miró. 
 
Conheço São Leopoldo desde o final dos anos 50, quando era uma cidade pequena.  Hoje é um parque industrial importante na produção de calçados para exportação. 
O centro é muito movimentado, com lojas elegantes e muitos edifícios  residenciais cada vez maiores. Resta pouco 
daquele cenário colonial, mas ainda é possível encontrar prédios de linhas  germânicas em meio das construções mais modernas, além do velho Seminário junto  ao rio e à ponte de ferro. 
 
O percurso de trem compreende as cidades de São Leopoldo, Esteio, Sapucaia e  Canoas, com algumas vistas da zona portuária do Guaíba. 
À noite fomos ao Teatro São Pedro para uma das apresentações do festival de  dança contemporânea. Interessantes as performances.  
 
Acordamos com o estardalhaço da moçada dos partidos PSTU e PSOL na saída da  garagem do Hotel San Rafael Plaza em que está hospedado o Presidente Lula.  
É um protesto irado mas bem humorado, com cartazes em que Lula aparece com uma  cueca cheia de dólares...  
Os jovens gritam refrões agressivos do tipo “Falta verba para educação mas tem  grana pra o mensalão — Lula ladrão”... e coisas piores! 
 
A polícia conseguiu retirá-los mas eles foram para a porta do hotel e acabaram  fechando a rua, dando início a um tumulto, com a presença da imprensa e da TV,  com a detenção de um manifestante. Gritaram: “Polícia protege ladrão e defende  o mensalão”... “Lula que decepção dando apoio ao mensalão”...  Para o presidente que era o              líder da juventude mais à  esquerda, é um vexame público.  
Os carros da comitiva saíram com a proteção da polícia, mas o Lula deve ter  saído por algum caminho camuflado para escapar do constrangimento público. A  imprensa registrou que ele continua fazendo o mesmo discurso em que fala da mãe  analfabeta e que tem vergonha na cara... 
 
Fomos passear no Parque Farroupilha e de lá pa ra o sempre atrativo Centro  Cultural Mário Quintana, nas dependências do antigo e bizarro hotel em que  viveu o grande poeta gaúcho.  
O sol voltou a raiar, com força, elevando a temperatura. 
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